Entrevista da semana com PH Lamounier

Entrevista da semana com PH Lamounier

Nossa conversa desta semana foi com o ex-técnico do União, PH Lamounier, que foi obrigado a interromper um projeto de restruturação do clube em 3 anos

A carreira de técnico de futebol é uma das profissões mais instáveis que existe,e assumir um clube sem estrutura, sem recursos, apenas na base da vontade e ainda conseguir resultados positivos é coisa praticamente impossível. Nossa conversa havia sido agendada para segunda-feira, mas teve de ser adiada devido a uma reunião que haveria com o presidente do clube. Nossa entrevista desta semana foi com Pedro Henrique Lamounier, ou simplesmente PH, ex-técnico do time profissional do União Futebol Clube.


Pedro, você começou bem cedo no União e já como treinador?
Sim, comecei em 2012 já como treinador. Naquele ano o clube tinha uma grande possibilidade de não  participar do campeonato por falta de recursos, sabendo disso eu e o Marcelo Montezzo apresentamos ao presidente um projeto pés no chão que tinha como objetivo montar um time da região mesmo e assim não deixar o clube ficar de fora do campeonato.
Após a diretoria ter aceitado, confessamos a procurar um treinador que se encaixasse no perfil que precisávamos para o projeto e depois de termos falado com algumas possibilidade a diretoria entendeu que eu era a pessoa que melhor se encaixava no perfil que procurávamos, então eles me fizeram o convite e eu aceitei de imediato, pois já vinha estudando desde que tinha encerrado minha carreira como atleta. Na ocasião eu vinha de um trabalho já como treinador no São Francisco FC em 2011 junto com o Walker Belgo e o Edu do São Francisco, que me deu mais segurança para aceitar o convite. De 2012 até agora atuei como Auxiliar Técnico do sub 20 em 2013, treinador do sub 17 em 2014 em uma campanha que ficou marcada no clube pela classificação com uma grande vantagem e vitória por 3x1 sobre a S.E. Palmeiras, que acabou perdendo o título para o Santos naquele ano devido essa derrota. Em 2015 como treinador do Sub 20 para disputa da Copa São Paulo e esse ano como treinador do Profissional novamente. Foram cinco anos de muita entrega ao Clube!

Em 2015 foi o início do projeto que era para ser de longo prazo?
Isso mesmo Emerson, o proposto pelo atual presidente e diretoria era que construíssemos um projeto que desse base e sustentação a longo prazo e que iniciasse uma fase de auto gestão no clube, ou seja, o próprio clube administrando o seu futebol e não dando mais espaços para Terceirizações. Foi o que fizemos, mais infelizmente o pensamento imediatista do nosso futebol não deixou que se cumprisse o que foi planejado e vinha sendo executado.

Quem mais te ajudou neste período?
Logo no início do trabalho apresentei ao presidente o Fred Resende que cuidou da parte comercial até o termino da Copa São Paulo, André Mathias (Dedé) que formatou todo o projeto da parte de campo, Marcelo Montezzo que voltou após 2012 e cuidou da situações mais administrativas de jogos e atletas e mais a comissão técnica composta pelo Luiz Alencar (Luizinho) como preparador Físico, Rubens Lacerda como Analista de Desempenho, Aroldo Massagista que voltou a clube, Fernando Russo que foi nosso Médico e também o Luiz Berbel que nós ajudou no campeonato.

Como foi a experiência da Copa São Paulo?
Foi uma experiência excelente, muito grande. Logo que saiu a tabela vimos o quanto àquela copinha ia ficar marcada nas nossos carreiras, para comissão, atletas, clube e torcida também, e foi o que aconteceu. Caímos em uma chave com Flamengo que é um dos maiores clubes do Brasil, Red Bull que tem uma filosofia de jogo bem moderna e um investimento muito grande e Palmera do RN que já estava montado a mais de um ano e vinha de um título Potiguar na categoria aquele ano, ou seja todos os times eram muito fortes e tínhamos em nossas mãos o início de um projeto de longo prazo que havia começado a três meses e não podíamos estar desorganizados dentro de campo. Montamos a equipe para ter uma segurança defensiva e tentar jogar em contra ataques mais já tentando colocar nossas características de entender o futebol que é o toque de bola, essa foi nossa ideia. Aí quando veio a estréia foi aquela situação gratificante e ao mesmo tempo de muita responsabilidade, quase oito mil pessoas no estádio e em todos os jogos foi assim, isso foi maravilhoso, vai ficar marcado. Dentro de campo os resultados não vieram devido a força do grupo, mas conseguimos mostrar uma equipe organizada, com um objetivo e bem focada a se entregar ao máximo em cada partida.

O marketing do União criou uma impressão de que o time seria candidato ao título.
E esta responsabilidade acaba caindo sempre ao técnico.

E a campanha do Paulista?
Nós sabíamos que será um ano de muitas adaptações, pois dentro do planejado era aproveitar ao máximo atletas que disputaram a Copa São Paulo e trazer para essa base jovem atletas mais experientes e também atletas com potencial a médio prazo ou seja dar a oportunidade também a atletas com potencial que viessem do futebol amador e que precisariam de um tempo para adaptação. Foi o que nós fizemos, mantivemos 12 atletas da Copa São Paulo, os que não foram aproveitados no profissional continuaram os trabalhos no sub 20, avaliamos atletas da região onde aprovamos entre oito e dez atletas, e buscamos atletas com mais rodagem como Vena, Alexandre goleiro, Xandy, Rodrigo, Diego, Gregori, Thales e Tião. A nossa ideia era dar uma forma a essa equipe, dar um padrão de jogo, uma característica a ela. Queríamos alcançar resultado já nesse primeiro ano, mas sabíamos o quanto seria complicado pois a principal ideia era dar rodagem ao time para ter um time muito forte e competitivo nas próximas competições. Os resultados não vieram no paulista, mas olhando sob o olhar de um planejamento vemos que os objetivos para essa fase do projeto foram alcançados, pois hoje nossa equipe tanto profissional quanto sub 20 tem um padrão de jogo, um modelo onde se tem bastante a bola e tenta chegar ao gol adversário mantendo a posse dela, uma equipe que foi apontada por muitos treinadores na competição como a que tem uma característica de divisões acima da que estamos é de fato era isso que queríamos, pois já estávamos pensando lá na frente.
Infelizmente o projeto não vai ter continuidade e isso é uma coisa que frustra bastante, queríamos construir uma situação sólida, com base forte.

E o projeto proposto como era?
O projeto tinha como ideia começar a visar resultados a partir de um segundo ano tendo como seu ponto de maior força o terceiro ano, por isso pedimos três anos. Mas além de tempo creio que o grande forte do projeto era a estruturação da base do clube para que pudéssemos começar a formar nossos futuros atletas do profissional dentro do próprio clube. Quando um clube não tem uma boa situação financeira não tem como se trabalhar a curto prazo, ao invés disso se deve fortalecer a base para que se firme bons atletas para o mercado e também para termos um time profissional já com uma filosofia de trabalho tanto fora como dentro de campo, mas infelizmente não conseguimos dar seqüência nessa ideia. Mas vida que segue, se DEUS permitir outras portas se abrirão para implantarmos esse projeto aqui em Mogi, tentando trazer todo o futebol mogiano para mais perto!

E agora o projeto foi interrompido.
Fiquei muito chateado com a interrupção do projeto e os resultados não ajudaram a manter, este ano também é o último do presidente e não deu para segurar, teve muita influência política na decisão. Aqui em Mogi estamos acostumados às coisas surgirem de repente como o caso do basquete que com o investimento que teve chegou à NBB. Nosso trabalho precisaria de mais paciência, tenho muito orgulho em poder ajudar o União, torço muito por ele. 

E agora os garotos do sub 20, que acabaram de começar o estadual, qual foi a reação deles?
Ficaram bem chateados como nós também da comissão. Se cria uma amizade e um respeito muito grande entre ambos e eles (atletas) são os principais dentro de um projeto, eles acreditaram desde o começo no nosso trabalho. Tem atletas que abriram mão de outras oportunidades acreditando no planejamento. Mas agora na nossa despedida do grupo falamos da importância da oportunidade de disputar o campeonato paulista da categoria para eles e que eles deveriam manter o foco total em buscar a melhor colocação indiferente de quem estará no comando pois infelizmente o futebol é assim mesmo e temos que ser profissionais a todo instante.

Qual a diferença do elenco de 2012 e o que esteve no Paulista deste ano?
Na verdade as idéias foram diferentes, em 2012 foi um trabalho mais pés nós chão porém com uma visão mais de momento. Precisávamos montar uma equipe caseira porém com experiência para aguentar aquele campeonato, por isso tínhamos um grupo mais rodado com atletas que já tinham disputados outras vezes a série B. O meu trabalho também como treinador foi de montar um modelo de jogo mais parecido com os demais times do campeonato para tentarmos buscar os resultados imediatos. Já esse ano a ideia foi de implementar uma filosofia, um modelo de jogo que precisaria de mais tempo para dar resultados, porém quando começasse a dar esses resultados seria muito difícil regredir. Tenho como exemplo, guardada as proporções, o time do Audax do Fernando Diniz, precisou de tempo para chegar a final do Paulistão. O time de 2012 foi mais competitivo e o de 2016 muito mais técnico.

Pedro, temos dois times profissionais na cidade. Você não acha que deveria ter alguém que observasse os atletas nos campeonatos da cidade captando os que tem potencial para jogar no profissional?
Com certeza, na verdade o trabalho deveria ser feio em conjunto, os clubes amadores juntamente com os clubes profissionais. Quando nós começamos o trabalho o ano passado no União nosso futebol amador ainda estava sem atividade, logo depois surgiu a Associação de Clubes e na seqüência os campeonatos. Quando fizemos a avaliação para o sub 20 no ano passado conseguimos atletas de muita qualidade aqui da cidade, mas tenho certeza que se já estivessem acontecendo os campeonatos e se houvesse uma aproximação entre as partes teríamos conseguido muito mais. Após o termino do Campeonato Paulista da Segunda Divisão o Dedé seguiu o trabalho com o Sub 20, inclusive estreitando com vitória, e eu como treinador do profissional e coordenador técnico da base ficaria com foco nos campeonatos da Associação Mogiana para já começar a olhar alguns atletas para integrar no próximo ano, desde atletas do sub 11 até o profissional. Mas agora não teremos essa possibilidade de seguir com essa ideia. Mas é isso aí, de qualquer maneira torço muito para o futebol Mogiano, tem 22 anos que moro em Mogi e meu objetivo é trabalhar para que um dia possamos ter um futebol forte abrindo oportunidades de carreira tanto para atletas, dirigentes e profissionais de comissão técnica de nossa cidade em todo cenário nacional do futebol.
Grande abraço parceiros do Futebol Mogiano e estarei sempre a disposição!

Por: Emerson Oliveira (FutebolMogiano.Com.br)
Em 17/08/2016

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